A Menina Páprica Doce

                                                                             Andava lentamente procurando um lugar à sombra. No gramado frente à concha acústica do IdA havia um silêncio, uma quietude do universo da universidade. A uma distância de uns dez metros, uma insuspeitada menina estirou calmamente sua kanga e deitou seu corpo sob a alta copa de uma árvore. Naquele instante ela parecia querer parar o tempo e deixar que os acontecimentos fluíssem imperceptivelmente na tranqüilidade de um sono.


Ela também sabia a minha presença... e enquanto era subjugada pelos instintos e pensamentos do sono, eu procurava prender minha atenção à leitura de um livro do Artaud... estava concentrado nos capítulos finais e de repente meus olhos viraram, minha alma transcendeu, tive três espasmos respiratórios, e, no terceiro, involuntariamente projetei uma pressão de ar contra a glote e da boca meus músculos se articularam, enquanto minhas pregas vocais soavam afinadas notas musicais... sem querer pronunciei uma palavra, que onomatopeicamente seria Ahhhtimmm! Foi extasiante aquele instante que me lançou às nuvens...

- Saúde...

A voz eu já sabia de onde vinha e de quem era... ela me olhava enquanto esperava: então eu disse obrigado... voltei à leitura sem tirar aquela imagem dos meus olhos e sem tirar aquela voz da minha cabeça... e quando a procurei com o olhar novamente, já não estava ali... havia sumido... desapareceu depois de me lançar um sentimento carmesim... quem era ela?

Eu já desejava saber seu nome e meus desejos já eram concretos... e foram esses os primeiros efeitos da menina Páprica Doce...