Hei de ser tornado...

Estou com pressa para me tornar o empreendedor da calçada onde quero pisar, ladrilhada, estrelada, poética, abrilhantada, sangrada, ávida, ligeira, longa e larga, porém ética...
Amedrontado e ferido pelas malícias dos que querem vencer a qualquer custo...
Nessa margem marasmática e apática do largo e profundo rio que corre nos meus dias...

Hei de me tornar um tornado e me arremessar para o alto...
E no ápice, no vértice do meu lançamento, hei de realizar a calçada celestial tão sonhada...

O amor é uma droga natural...

O AMOR não precisa de droga... já é uma droga que nosso corpo produz... nas suas variadas e incontáveis formas, determinadas por indetermináveis princípios ativos naturais... o amor, essa droga do amor acontece quando achamos que somos viciados em alguém... mas não somos viciados em ninguém... somos viciados em substâncias orgânicas: substâncias, de efeito físico ou mental, depressoras, estimulantes ou perturbadoras, incrível e subjetivamente produzidas pelo nosso sistema amorológico - aquele que representa a amabilidade... amabilidade, esta, que em mim se encontra alta... meu sistema amorológico está desequilibrado... amor me causa pressão altíssima, surtos psíquicos e abalos sísmicos no chão onde piso... sou viciado... e não temo a overdose...

Zona do Esquecimento - ATIVA

Noite que começou com canções antigas... depois, é claro, de uma longa jornada de trabalho... todos inspirados numa mesa de bar... tratava-se de um bar histórico da minha vida... do que se passou na infância, junto à família... um bar que tem cara de sábado: gente alegre, comida árabe e cerveja  gelada... naquela mesa tive reencontros inesperados com pessoas esquecidas... deu nisso ir para o bar da quadra onde cresci... e isso porque eu optei por ir àquele lugar sem pretenção de relembrar velhos fatos... sem saudade alguma... mas acabei encontrando testemunhas e mesmo cúmplices dos meus traumas perdidos e sem sentido - fatos ocultos que decerto determinaram o meu comportamento social... e não poderia resultar em outra coisa:  muitos dos acontecimentos da minha infância se encontravam nas lembranças apenas das pessoas com quem me encontrei... pude constatar uma tendência no meu comportamento, advinda de algo muito muito mais complexo que os meus atos em si... algo profundamente inconsciente... algo que acontecia e continua  acontecendo... de fora para dentro...  como se já tivesse um destino traçado na minha linha da vida... inúmeros fatos me foram relembrados... poderiam até ser lembranças inventadas porque eu não me lembro de nada... mas tudo do que foi dito era o princípio do que ainda acontece comigo... até os dias de hoje eu vejo que as pessoas me vêem com a mesma soberbia... por isso não implorei para que me dissessem quem eu sou... sem que eu tivesse aquelas lembranças, desde criança eu já sentia:  sou o olho da verdade repugnante... o eterno sofrimento calado em sossegada desistência de ser... tenho na memória a mais benéfica zona do esquecimento... já nem me lembro dos meus sonhos...