Perdão a quem fui sincero!

O que há comigo,
quando não consigo
ter a artimanha
nessa vida estranha?

Do que eu preciso,
pra ser decidido
na melhor façanha
de um voo livre?

Eu quero amar...

como quero viver sua amizade...

gostaria de sentir um desprezo qualquer por você...
até sei que devo esquecer de tudo...
deveria querer ficar longe... não temer nem desejar um encontro...
mas não consigo... desejo e temo o reencontro...
não consigo não pensar sem parar...
como poderia desprezar quem tanto quero que receba meu sincero abraço?
como poderia demonstrar qualquer mágoa a quem só tenho a dizer o quanto adoro?
como eu gosto de você!
preciso superar isso...
o paradoxal é você ter se tornado meu padrão de exigência pra curar a saudade...
enquanto outrém não aparece, tudo me entristece...
mas sei que herói não sou... não insisto no erro... não alimento desespero...
só digo, sem medo: como quero viver sua amizade!

Quem confia?

Minha autoconfiança...
incomoda nos outros minha autoconfiança...
será que é autoconfiança de mais?
de fato é... a autoconfiança deve existir, não nas palavras, mas nas ações e nas intenções mais ocultas...
o estigma pode ser desfeito por meio de atitudes silenciosas... são pequenos os passos silenciosos que rumam a uma nova direção... mas esse plano secreto só é mantido através de humildade...
a autoconfiança é um dos opostos da humildade...
não sei... pára tudo!
não posso dizer que estou fazendo algo legal?
não posso dizer que é bom?
não posso mesmo criar a menor espectativa?
não creio que o problema seja a espectativa... ou talvez seja, mas é fato que também me subestimam...
e não consigo ser esse humilde...
como podem me julgar criador iludido de espectativas?
como posso pensar que me vejam tão ingênuo?
e aqueles que me ensinaram, não se consideram? e aqueles com os quais guardei experiência e conhecimento perpétuo, desconsideram-se?
julgam mesmo que não aprendi nada?
mas aprendi...
esta gente me vê como doido... não está longe de eu ser algum doido...
mas está certo... procurarei usar a minha loucura na hora certa... sem anunciar... sem vuvuzelas...
Ass. Ninguém...

A Menina Páprica Doce

                                                                             Andava lentamente procurando um lugar à sombra. No gramado frente à concha acústica do IdA havia um silêncio, uma quietude do universo da universidade. A uma distância de uns dez metros, uma insuspeitada menina estirou calmamente sua kanga e deitou seu corpo sob a alta copa de uma árvore. Naquele instante ela parecia querer parar o tempo e deixar que os acontecimentos fluíssem imperceptivelmente na tranqüilidade de um sono.


Ela também sabia a minha presença... e enquanto era subjugada pelos instintos e pensamentos do sono, eu procurava prender minha atenção à leitura de um livro do Artaud... estava concentrado nos capítulos finais e de repente meus olhos viraram, minha alma transcendeu, tive três espasmos respiratórios, e, no terceiro, involuntariamente projetei uma pressão de ar contra a glote e da boca meus músculos se articularam, enquanto minhas pregas vocais soavam afinadas notas musicais... sem querer pronunciei uma palavra, que onomatopeicamente seria Ahhhtimmm! Foi extasiante aquele instante que me lançou às nuvens...

- Saúde...

A voz eu já sabia de onde vinha e de quem era... ela me olhava enquanto esperava: então eu disse obrigado... voltei à leitura sem tirar aquela imagem dos meus olhos e sem tirar aquela voz da minha cabeça... e quando a procurei com o olhar novamente, já não estava ali... havia sumido... desapareceu depois de me lançar um sentimento carmesim... quem era ela?

Eu já desejava saber seu nome e meus desejos já eram concretos... e foram esses os primeiros efeitos da menina Páprica Doce...

Sol de Gelo

Quem mais do que eu gosta de ser feliz ao lado de quem rebate o prazer de estar junto? O difícil é se ver ao lado de tantos e querer estar só... É difícil administrar meu tempo e meus batimentos cardíacos com tantos amigos... pode ser que me acostume e que isso me fortaleça... ou pode ser que não dê conta e volte ao meu gigante e distante planeta, que gira em torno de um sol de gelo... mas ainda lá vou querer gritar e querer que me ouçam...
Nunca pensei que pudesse viver tantos faz-de-conta... e o que sempre desejei, hoje temo seja meu, porque uso de toda minha força vital, para que seja meu... não é um medo exatamente de ter, mas de, na tentativa de ter, pertencer... e acabar sem força...
Estar longe do meu mundo afinal é o que me entristece? Ou será que é tristeza o nome do meu mundo?
Acho que não devo temer o que já é...
Sei o que devo fazer... meu planeta não deve caber em mim... eu é que devo caber nele...
E o que era distante, agora é aqui...

Baseado no "Tratado do Desespero e da Beatitude", de André Comte-Sponville.

Levei um susto, e com isso, tamanha frustração, angústia, vazio... não que isso tenha me desiludido mais do que sou desiludido, mas me acordou de um sonho - esse último que sonhei... era um território, um mundo que não contruí sozinho - construímos...
Fazendo um estudo desse subjetivismo, verifiquei que toda explicação de coisa subjetiva é superficial...
Minha ilusão ou macro-ilusão do meu sonho essencial é o amor eterno, é uma vida gloriosa... aquele noivinho-que-gora, que de repente era eu, me levou à morte, me frustrou, mas não desiludiu meu macrossonho... aquele namoro, que esperei fosse duradouro, não foi... aquele amor, que esperei fosse verdadeiro, não foi...
O mundo desabou... desencontramo-nos... desterritorializamo-nos... perdemos os afetos, o magnetismo...
Mas ainda sou todo desejo... minha angústia é germinante de novos mundos...
Não deixarei de esperar por intensas batidas de asas de um vôo eterno...
E como poderia deixar de esperar, se creio no amor?