remontados tempos remotos...

Acredito nesse momento da minha vida que inspiração dependa mais de tempo que de qualquer coisa sobrenatural... Há quem diga ainda que esse tempo que os poetas têm nada mais é que puro ócio – “ócio criativo”. Por que escrevo agora? Por estar no ócio? Ou por carência minha? Na verdade não é nenhum ofício de poeta o que me proponho a fazer, tampouco possui essa carta virtual qualquer cunho poético. Não pretendo que minhas palavras te sejam enfadonhas... Acontece, porém, que sei bem o que me impulsiona a escrever – não tanto porque tivesse a intenção de afirmar quão consternadora é nossa distância, mas porque como em déjà vu sou acometido por uma lembrança indelével dos tempos que foram nossos... Tentavas decifrar meu olhar, que talvez te fora inefável, e tentavas me ver...
Quando contemplo momentos que me trazem extrema alegria, ainda assim, me faz falta tua companhia... E mesmo que tivesse distância de tempo ou de espaço que nos separasse, me contentaria se a saudade fosse recíproca, telepática e harmônica...
Sinto falta de gestos apaixonados, de demonstrações quaisquer que expressassem emoção... Aceitaria meras palavras, ainda que fossem breves... Volto-me aos tempos das Grandes Navegações, me sentindo um capitão à deriva, receoso pela possibilidade de ser arrastado pelas ondas abismais e pela incerteza de descobrir o novo mundo...
Acho que não devo referir a ferida, que é tão curada... Sou responsável pelo abrir e fechar dos portais para os meus caminhos bifurcados... Que razão eu teria para declamar palavras tais? Por favor, não me interpretes mal... Só desejo todo bem que sonhas... Na verdade esta carta, se ainda estiveres lendo, só diz o quanto desejo ser mais receptivo quando nos encontrarmos... Um abraço diria o quanto... Falta-me coragem de chegar tão perto... O medo que tenho de te olhar é como um desejo desiludido de um servo do amor liberto pela amada...

se...

quanta vontade tenho do rio...
das canções mais calorosas de amor...
tanta dor que sinto e vivo...
sabe, são as gotas da vela que findou...
derramadas sobre a frieza do meu ser...
que me ferem e me marcam - só eu sei...
mas, se sensato teu paviu for...
não haverá dor, nem desamor...
e o fogo viril libertarei...
pois quero eterna luz, amor...

somos mais que o desgosto voraz...

Vou levando... com medo, dúvida, desespero, astúcia... não adianta dizer que me quer bem se mal tanto me traz... se espanto qualquer um de mim aquém, o faço sem o julgar... Quem somos... como somos... quem sabe? somos em suma a ferida alheia que nunca arde... a vontade própria do guerreiro covarde... o nada ser e tudo querer... a disciplina de a dor esquecer ao toque pontual da alvorada... a rima dissolvida em água... a métrica desencontrada... o desgosto voraz... Somos tais... mas além desses, somos mais...

quem amarei?

tantas vezes... tantas vezes... penso em ti...
sinto sempre saudade dos sonhos de sermos assim...
ah como quero viver esses sonhos - quero sim!
sinto a falta do riso que nunca vi...
sinto a falta da voz que nunca ouvi...
falta-te no meu tato, no meu oufato... e nos meus braços...
pensar em ti me põe calado...
pensar em ti - eterno fado...
devoto sou a esse trato...
ama-me!

felicidade: nascedouro de amigos

pela vasta zona caminho...
à procura da fonte da vida...
onde nascem milhões de amigos...
e cada sorriso é um parto...
e o abraço do peito apertado...
é o laço emanado da paz...
é de mais...
é o máximo...
o infinito a ser contemplado...
o obrado enredo que me perfaz...

grito...

sim... é um grito!
aqui não fico...
por isso vôo...
não sei quem sou...
só sei que existo...
por isso grito...
sou todo amor!
indefinido...
impreciso...
substantivo...
e estou vivo!
por isso grito!
sou fugitivo...
desesperado...
sou todo grito!
mesmo calado!

Sonho-te

-------------------------------------------------------------------------------------------------Sonho-te... sonho-te... e parece que não vou mais acordar... que sono bom que tenho... o dispertador não toca... parece que faz tempo que passou o horário de ir para o trabalho... sabes que tenho que ir, mas me pedes para ficar, sussurrando ao pé-do-ouvido... isso não pode ser na verdade um cachorro de estimação lambendo minha orelha, porque não tenho um... sei que é só sonho, e eu é que não quero acordar... boa coisa, sei que não queres... então, deixa-me ir e vê se aparece antes de eu me deitar... pois eu te liberto dos meus sonhos... vem viver a realidade!
-------------------------------------------------------------------------------------------------Deitei sobre um telhado a olhar o céu, querendo, não ficar só, mas a sós contigo, ali, em puro pensamento, indagando se poderia sonhar tão longe e tão intuitivamente...e uma estrela cadente, tão a calhar, era minha chance de formalizar meu pedido às estrelas... sonhei-te, pois, por uma noite inteira, sob o céu luminoso, ombro a ombro, mãos dadas, respirações compassadas... se existes, quero-te mais que em sonhos...
-------------------------------------------------------------------------------------------------É preciso sonhar que há amor pra esquecer que não há... e um momento de felicidade eterna também é preciso pra esquecer que a felicidade é efêmera e perde o sentido... em cada instante angustiante lembro que já vivi felicidades eternas e amores eternos... não obstante, a angústia parece eterna... mas o que é eterno em mim é o querer sempre a eternidade no amor e na amizade... não havia uma resposta esperada ou uma esperança de qualquer resposta... a resposta foi inesperada... e surpreendeu... uma resposta sugestiva descompromissada... um simples sim! quantos quilômetros tem a luz que alcança minha alma? Um dia... uma volta... outro dia... outro dia... outro dia... sempre volta... o tempo previsto tem sempre imprevistos... é inesperado o esperar...

Moderna angústia...


Com o tempo passo a entender o passado.
Mas nunca entendo o presente.
Tudo é sempre tão novo.
A chuva cada vez mais se acumula nos rios até o pesar...
Cada gotícula é condensada até que o peso do mau tempo recai sobre minha cabeça.
Clarões e rajadas fortes me fazem procurar imediatamente um lugar seguro que me proteja da tempestade.
Meu sentimento está carregado de energias desequilibradas que se ligam através dos fatos impulsionados pelos ventos vacilantes.
Não consigo conter meu pesar, e ponho-me a chorar no exato instante em que tudo muda de sentido ou simplesmente passa a ter sentido.
Dos raios que me assustam me protejo. Minha visão ganha uma capacidade inimaginável e sem controle.
Preciso apenas de luz para enxergar o mundo...
Preciso me sentir tão natural quanto a natura...
Faço bons e maus tempos da saudade que invento.
As nuvens da angústia me transportam para o mundo das sombras que se escondem na escuridão.
Não tenho a convicção de Noé.
Estou na chuva que tudo finda.
Quando no cair da última gota d’água, solitário, no deserto vasto, estarei livre de sentimentos, mas sofrerei de muito frio, calor e sede, e terei miragens e alucinações.
O futuro ainda não teve esperança...
O presente vaga sem encontrar as pedras que indiquem o caminho da ida...
O passado nunca se desligará de mim...

A criança é uma fabriqueta de sonhos...

Na minha infância meus sonhos eram sem fronteiras...
Os adultos – em vez de responderem o que eu perguntava, diziam que minhas perguntas eram mal formuladas e que não faziam o menor sentido!
Eu achava que suas respostas é que não faziam sentido...
Indagava: que sentido?
Era um menino pequenino, mas de grandes e incontáveis sonhos...
Passei o resto da minha criancice inocente querendo saber o sentido que tanto prezavam...
Fui crescendo...
A cada dia fui descobrindo o sentido que minhas perguntas deveriam ter...
Deixei de ser perguntador.
Fiquei sem respostas para tantas perguntas...
Minhas perguntas ficaram presas na minha garganta...
Meus sonhos, presos nos calabouços reais, foram condenados à morte...
Mas impedirei que matem meus sonhos e os libertarei; abrirei todos os confins da minha garganta em rebelião...
Acuso os reis de ladrões de sonhos; acuso-os de esconderem a verdade – alienadores que são!
As únicas verdades que querem que saibamos são as suas...
Mas o que descobri é que querem fechar todas as fabriquetas de sonhos.

Quero ser poeta...

Quando criança não sabia quem era nem quem seria... quando jovem sabia quem era e pensava que transformaria... agora lamento minha história... não pude ter outro destino senão o opróbrio... como poderia nesse meu trato de sofrimento ter a peripécia romântica tão sonhada se quisera sempre ser poeta?

verdades esquizofrênicas...

Será que tenho mesmo essa mania de perseguição? Ou me perseguem insistentemente as impressões alheias, que eu mesmo imprimo distraidamente? De qualquer forma, me afasto de quem possui tais impressões nefastas da minha pessoa. Antes de pedir desculpa por meus atos vacilados, tento acertar os seguintes, mas nunca estou pronto para ser criticado, nunca reajo às críticas injustas porque sei que de tão sensível que sou não sensibilizo ninguém. Fico calado quando penso em algo a dizer, mas interrompem meu silêncio com olhares repugnantes que rompem meu discernimento. Canso de ouvir o que não quero e de falar o que não devo; Por isso me calo e me ensurdeço. Estou sempre sonhando quando, então, deveria estar desperto. Vejo os lábios do mundo sujos de palavras indecentes que ignoro. Quando me perguntarem o que ouvi, não terei nada a dizer. Não direi o que não querem ouvir. Não ouço nada porque já tenho minhas verdades esquizofrênicas. O mundo que gira ao meu redor me nauseia a bordo da nave onde divago... Minha vida fosse um romance, teria um enredo poético, com a peripécia quebrando a monotonia linear e infinita qual atravesso.

Atos meus...

Tudo que aqui desabafo diz respeito à minha experiência de vida, que não posso expressar de outra maneira...
O ponto circunstancial onde me acho é uma fase nova e afastada das outras. O que hoje posso ver como narrador externo, antes era uma triste e ilusória cena do meu destino.
É fácil perceber a personalidade de uma pessoa a partir de seus atos, que são concretos. Mas, se analisarmos somente os atos, estaremos na superfície impenetrável do saber humano. Devemos identificar a gênese dos atos...
Sou de fases, como qualquer pessoa. Nessa, qual me encontro, sobressai minha vontade de mudar de personalidade, tão insatisfeito fico a cada ato meu.
Sei que posso me metamorfosear no meu comportamento, que tanto se parece com um cabo de guerra tencionado pelos contraditórios passado e futuro.
E nesse meu afã, que meus atos todos sejam, não apenas justificáveis, mas louváveis nos olhos humanos!