Amor sem cura...

Apagado...
Assim que me sinto... Qual o sentido do fluxo intenso do raio? Qual o sentido do fluxo entre as instâncias do psiquismo, esses campos minados que atravessam uma revolução sintomática de uma doença em extinção, AMOR?
As pessoas passaram a se prevenir... Mas contraí tal doença...
Uma tempestade de olhares luminosos me cercava de raios e me cegava no clarão intermitente...
Fugi para meu mundo apagado...
E nele me sinto subjugado pelo medo... Fico, não desesperado, mas em estado de choque, estático... Quero satisfazer meu ego, que precisa de tratamento que elimine esses sintomas psicofísicos do AMOR... Sairei logo do coma, é possível... Quando houver outra chuva de raios quero estar aprumado para correr, não da chuva, mas em busca da luz dos raios... Não posso ficar aqui, imóvel como sempre, angustiado, esperando um raio me atingir... Talvez seja a doença o que me mantém apagado ou, menos provável, me fez perceber que estou apagado, não mais me vêem, não mais me vejo, a não ser quando acendo a lâmpada fria e fosforescente do meu quarto isolado...

Padecimento noturno da criação poética

Não me vem o sono que tanto preciso, que me deixe curar meu estresse. Mesmo que eu não durma, fecho os olhos e sonho como pudesse me confortar, afagar minha angústia, minha grande e sólida solidão. Sonho que um dia viver será prazeroso, que um dia me orgulharei desse estilo nefando de vida. São duas horas e não me vem o sono que tanto preciso, que não me deixe ficar acordado, com goteiras intermitentes nos olhos, com uma tensão nos músculos da face, doídos, incrivelmente mórbidos e expressivos, como que contraídos no reflexo do espanto. Noites se tornam dias sem dormir – melancolia. Dias se tornam noites mal dormidas – de correria. O cansaço se acumula até que entorne dos meus olhos uma gota de vela do desprazer da vida do meu mundo sem mares nem continentes; um mundo árido, inóspito, inconseqüente, intrínseco, advindo do meu pensamento. O silêncio – faço de tudo, evitando que me contagie. Ouço música; não estou mais no silêncio, mas permaneço em silêncio. Escolho então as músicas mais melancólicas até que descubro que falo em voz alta e falo sozinho. Agora me levo à loucura... Acaricio-me com minhas próprias mãos, mas não percebo o carinho que recebo; percebo só o que dôo. Ocorre que não recebo gratidão nem recompensa. Fico então desolado nesse meu decalque de poeta alcoólatra e suicida, acendendo um cigarro com a brasa do outro, jogando as pontas ainda acesas no chão, espalhando as cinzas fétidas, transformando o piso do meu quarto num brasido dos meus sonhos execráveis.