Amem-me! Amém.

A natureza para mim é algo que me proporciona muita paz... Não preciso ser rico: a possibilidade de não ter que trabalhar me contenta, se eu puder contemplar uma cachoeira feita por um deus ou então contemplar a divindade nela mesma, ou se eu puder ver o mar poderoso e surpreendente e correr todos os riscos de uma onda traiçoeira ou de um tsunami... Tão grande e despreocupada é minha autoestima no momento da simplicidade de existir!
Mas aí me junto aos humanos, e vejo entre nós a mais desastrosa tolice.
Somos capazes de cometer agressivos atos, violentos, não pela fragilidade da vida ou do organismo, mas pela fragilidade do espírito.
Querem que eu coma merda? Vou comer! Se estou vivo até o momento, é porque ponho a merda social da hipocrisia goela abaixo... Engulo com dificuldade toda essa merda! E cada vez que fraquejo na minha obrigação de ingerir o cocô que acabara de precipitar do ânus folgado, ignorante e egoísta do vil semelhante, sofro as duras penas de me arrancarem os dentes, os olhos e a língua, sem anestesia, sem compaixão...
E antes mesmo que me venha o pensamento suicida, aquele verdadeiramente destemido, já me aproximo da morte - se já não estiver morto: do espírito.
Castigaram minha santidade, enervaram minha sanidade, anularam minha vontade os meus criadores e os meus semelhantes...
Sem espírito, resta-me o ímpeto carnal e vulgar...
Confundo meus últimos batimentos cardíacos, tão tristes, melancólicos, agonizantes e amedrontados, com minha impaciência, minha intolerância contra os outros corpos vivos sem espírito...
Perdi o afeto: cortem-me a língua! Prefiro até que me matem!
Ainda que me passe pela cabeça beijá-los e traiçoeiramente arrancar-lhes as suas línguas, suplico, deixem-me... Não espero que me salvem... Apenas me deixem... Não sou sequer capaz de cuspir de volta o desprezo que têm por mim...